Showing posts with label 0613 Poesia. Show all posts
Showing posts with label 0613 Poesia. Show all posts

Saturday, 1 June 2013

Poesia - Arnaldo Xavier

7 Seres ~ Wagner Thibes
subsenhor                Sangue azul                 Sangue vermelho            Sangue
branco           Sangue amarelo                 Sangue verde           Sangue roxo
Sangue cinza                                    7 baldes!

[ in Lud-Lud, Casa Pyndahýba Editora, São Paulo, 1998 ]

Poesia - Aristides Klafke

La Lampe philosophique, 1936 ~ René Magritte
38

Posso ver uma flecha passando pelo meu olho
Mesmo quando não há flecha alguma
                                        passando pelo meu olho
E não é mágico o meu olho
Que fique claro: não delira minha língua
Lucrécio não me deixa mentir - quem se lembra dele?
Além da flecha que passa e não passa pelo meu olho
Posso ver pessoas mesmo quando pessoas
Não passam pelo meu olho
(teria Zenão algo a ver com isso?)
Em todo caso posso ver poemas resultando disso

[ in Quebrada, inédito ]

Poesia - Plínio de Aguiar

Cruz e Souza
Esteno Cruz & Souza Ltda.

Cruzes, Souza!
que negra máquina
fábrica de louça
inventaste!

Cruzes, Souza!
que luta dura
foi ali aqui acolá
travaste!

Cruzes, Souza!
que mulher aquela
caiada até metida
imaginaste!

Cruzes, Souza!
que balanço doido
no escritório da morte
pagaste!

Cruzes, Souza!
que colarinho branco
duro gesso
usaste!

Cruzes, Souza!
que poema
impossível de outro
criaste!

Cruzes, Souza!
que era mais? abolição
simbolos puros
procuraste!

Cruzes, Souza!
que mar de leite
na província negra
navegaste!

Cruzes, Souza!
que sonho de luto
na deserta noite
sonhaste!

Cruzes, Souza!
que vagão enorme
para um negro morto:
exageraste!

Poesia - Santiago de Novais



Eugenio Latour, Meninas e Polichinelo – 1942
Imagem enviada pelo autor
Polichinelo

Ronda
Entre uma e outra fenda
Uma e outra lenda
Leminsky meu amigo polaco
Pluma leve de língua
Puma leve da Índia
Lua assombra o velhaco
Lenta e tchaaaaaaaa
Entre uma e outra fenda
Onda

Poesia - Dorival Fontana

Smoking ~ Adam Neate
Névoa

Observo o cigarro
inerte entre os dedos,
a fumaça em seu
inebriante movimento...
espiral silhueta,
suave ascendente,
multiforme hipnótica,
impregna a mente.
Leva-me
à lugares vagos,
territórios ermos,
ao vazio inabitável
de todos os meus medos.
Queria ser livre,
como a fumaça
desprendendo-se...
altiva, crescente,
incontinente dança...
contudo, continuo preso

Poesia - Hamilton Faria

Bonsai ~ © SXC.hu
Doze Haikuazes

Quase inverno
O ventre da mulher -
Lua crescente

Esgoto o verbo
Só o silencio
Me liberta

Caminhada noturna
Como um velho mestre
A lua ensina a cidade

Caminhada noturna
A lua olha a cidade
Com superioridade

Ninguém merece
Os anos maduram
A xícara não obedece

Por melhor que seja
A ração e o sono
Não invejo o cão

O besouro
Tão pequenino - eu ele
Tamanho destino

Beleza tem patas
A vida busca sentidos
No terno olhar da vaca

Retrato do abandono
Cansado de domingos
O cão sem dono

O som da água
Entre as pedras:
Barulho que a vida precisa

Concluo - breve e silente
O que mostrei do amor
Foi o instante

Poesia - Carlos Eduardo Marcos Bonfá

San Gerolamo,by Caravaggio

Meu desejo existe,
E o desejo da página
Que se mistura
Com o meu desejo.
Escrevo porque
O desejo insiste
E o desejo da página
Já é o composto
Que me assiste.
Passiva,
Sou o regulador
De sua geografia
Ínfima e vasta,
O tatuador
Desta body artist.
Pede agressão
E sou o estripador
Que depois
Brinca de necrópsia.
Ativa,
Sua passividade relativa
É o desejo de ceder
E de me refrear
(Tudo é ambíguo),
É o jogo que comporta
Na abertura gráfica
De mais de uma porta,
É sua inconsciência
Dotada da vida
Do meu inconsciente
Sempre vigilante
E presente,
É sua prisão
Que é a própria liberdade
Minha e sua:
Comunicação.
Esta necrópsia
É também uma autópsia,
Deus violento
Violando um deus,
Corpo não corporativo
De textura e paixão.
Caneta, bisturi, formão.

Poesia - Marina Alexiou

Ilustração enviada pela autora
“A todos que dividiram a sua sombra comigo
E mostraram caminhos tão humanos”....
Nos meus olhos e no meu olhar vivem a tristeza
Da inclemência do tempo, da natureza, e a certeza
De que o estranho riso que brota dos meus tantos eus
É irmão desses espantos diante do gigantesco.
A todos que se aproximaram da minha sina
Abro espaço para os seus pés cansados,
Para suas vestes rotas, seu imerecido martírio,
Para sua volúpia contida em estudados disfarces
Para sua generosidade e sabedoria diante daquilo
Que se impõe. De forma definitiva.
Mas que poucos verão...
Eu lhes apresento ao mundo que não passa
De uma colcha de memórias, onde o jogo
De luzes das trevas e da beleza refletem
E acendem ainda outras através das gerações...
O meu hálito, este que carrego em densas nuvens tempestuosas
Sopra entre abismos que não permitem descanso
Os gritos, uivos de surpresa e dor são os raios
Que antecedem a verdade que será contada continuamente,
Por outros, que, assim como eu
(o Louco com o saco dos destinos humanos às costas)
Dirigem-se em sua direção,
Sem escolha....

[Para Micheli da Caravaggio]